quinta-feira, 25 de março de 2010

Still the Same Old Story

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Mais uma vez, a mesma velha história, que só renasce porque se conta de novo e de novo, então, assim, lhes conto:
A mesma história, uma luta por amor e glória. Uma detalhada, escancarada e, a despeito disso tudo, bela e poética descrição da desgraça, da ruína, do desastre. Faz-se arte do sangue derramado, as linhas da história incessantemente transformam em heróis e vilões os assassinos do passado.
Isso, nada disso interessava a ela. A mesma história, uma luta por amor e glória; e ela escrevia sobre o azul do oceano, o verde das árvores – não o conheço com seus olhos (sou daltônico), mas como é belo em suas palavras! Como é bela cada insignificância, cada ínfima descrição da vida em sua mais ingênua manifestação. Como, de repente, da boca dela a descrição daquele cachorro sujo, vira-lata, faminto, quase morto, supera meu deus e é meu deus.
Ela constrói um deus a cada dia e oro a cada um deles com a mais dedicada devoção, porque cada momento ao lado dela é um milagre que se realiza em minha alma e andar sobre a água, multiplicar os pães e o vinho, nada me surpreende, nada importa, nada além dela.
Ah, o azul do oceano... às vezes ele é verde e até vermelho, mas quem se importa? Nas palavras dela é azul e não importa mais sua cor, ele é mais bonito quando azul.
Os homenzinhos uniformizados morrem e matam, e a cada movimento dos peões “a história do mundo se projeta para um ou outro futuro” dizem. Ele não renuncia, uma multidão protesta, uns outros homenzinhos (também uniformizados) os contêm, alguns morrem, os que vivem têm medo e se calam. O mundo ferve, o céu é escuro e a atmosfera cheira a pavor, mas ela não tem medo; ela não escreve sobre mortos; ela não canta hinos que fabricam uma falsa coragem nos corações deslocados; ela não é um dos elos de uma corrente fraca que enforca a história e sufoca a humanidade. Ela é diferente, enquanto o pôr-do-sol é cinza e o horizonte é uma fera raivosa que aperta o peito, o seu oceano é azul e seu sorriso guarda a esperança, suas lágrimas lavam o sangue que repousa sobre o chão porque são a paz.
Consagram os homens que fazem odes aos maestros do progresso, daquele prédio que é construído com uma mão enquanto a outra incendeia dez mil cidades. Um projeto de humanidade desumana; leio os livros, assimilo a lógica dos vencedores, mas aí então... a mesma história... mas lá está, iluminada por raios de um sol que insiste em acordar a cada dia, acho que posso dizer: por ela. Então a conheci, então aprendi a vencer na derrota, aprendi que há beleza e que há felicidade que supera o horror de cada esquina e que faz o terror se encolher só de ouvir seu nome.

Aprendi que o azul do oceano é a epopéia da vida,

As time goes by...

2 comentários:

  1. "As time goes by... I'm still more and more in love with you."

    Não sei o que dizer, você adora me deixar sem graça. Um dos melhores textos seus. Uma honra, pois fala de mim. Eu te amo.

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  2. olá Lucas,
    o texto é lindo.vcs são lindos

    silvana

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