sexta-feira, 26 de março de 2010

O Direito de Escrever Errado


Não que importe, mas gosto de descrever (quando acho que possa ter algum valor) o contexto sobre o qual o texto foi escrito (se não quiser ler pode ir direto ao texto). Este texto que apresento é fruto de um concurso de crônicas que participei em 2004 ou 2005. Nunca fui de participar de concuros, ainda mais concuros de crônica, no entanto fui pego de surpresa com o pedido da minha então professora de redação do Colégio Objetivo para que participasse desse concurso.
Ela pediu para que eu escrevesse uma crônica sobre o tema "língua portuguesa" (ou algo do tipo): "Lucas, estou avisando meio de última hora, mas gostaria que você participasse de um concurso de crônicas com o tema 'língua portuguesa'". Foi mesmo de última hora, devia ser entregue no dia seguinte e eu, na época, mal sabia o que era uma crônica. Você lê crônicas nos jornais todos os dias, mas nem se dá conta de que se trata de uma crônica, e além disso, uma coisa é ler crônicas, outra é escrever, eu nunca havia escrito uma.
Mas resolvi aceitar o desafio, talvez por causa da falta de experiência no tema e por ter recebido a proposta tão de última hora e com um prazo tão curto, eu simplesmente resolvi escrever o que queria, sem quaisquer amarras, o resultado foi isso que vocês lêem agora, eu não tinha a menor previsão de que uma crônica assim escrita poderia ter qualquer sucesso num concurso.
Eu não ganhei o concurso, mas me surpreendi com o fato de primeiro minha crônica ter sido escolhida como representante de minha cidade (o concurso era federal ou estadual, não me lembro e realmente não importa) e depois ter ganho na "fase regional", isto é, ter sido escolhida como a representante da região de Campinas. Não foi mais longe e acho que nem poderia ir, não é uma crônica que se espera ler de uma vencedora de um concurso nacional ou estadual sobre a "língua portuguesa", é mais uma bobeira minha que, no entanto, me diverti muito escrevendo.




O Direito de Escrever Errado

Ora, eu falo português, mas quem não fala? Um francês, é bem verdade, não fala, mas fala francês. Eu escrevo, escrevo em português, o que é escrever se não, bom... Escrever? È possível escrever coisas e não dizer nada, a língua me permite isso. Por exemplo, como faço agora, não foi dito completamente nada, apenas algo sobre a língua, algo que caso não fosse dito, não faria diferença nenhuma, quem se importa? Eu me importo, escrevo uma crônica e preciso falar alguma coisa sobre a língua portuguesa, usá-la indiscriminadamente apenas como efeito simbólico pode até ser legal, agrada inclusive a muitos que pouco se importam com o conteúdo, mas não descartam a estrutura, bonitinha como tem que ser. No entanto acho injusto fazer meus leitores perderem seu tempo (precioso ou não, ninguém quer ficar lendo porcaria) com uma crônica feita num momento de nenhuma inspiração de seu autor, então nos próximos parágrafos, mediante o possível, escreverei algumas coisas, (que torço) façam valer seu tempo perdido.

O que faço, ou melhor, vou fazer se não discutir acerca da língua? O que é a língua? Já parou para pensar? Espero que não, não tem nada a se pensar sobre isso, mas algumas coisas interessantes até podem ser ditas, por exemplo, quem não gosta da língua como efeito de diversão? –ler livros?- Não! Ninguém mais lê livros hoje em dia, lêem piadas, no máximo. A língua complexa como é, só é usada hoje, no geral, de uma forma pobre, só como efeito de comunicação, uma comunicação cibernética, divertida e descomprometida, escrever bem ficou limitado ao nível acadêmico. Aprendemos na escola milhares de maneiras de escrever “por que”, em cada caso um uso especifico, mas o que estão usando por ai? Pq. “Também” tem acento? Mas só se escreve “tb”, dessa maneira não é preciso ficar decorando coisas como proparoxítonas terminadas em sabe-se lá o que para se por o acento de forma correta. Não, não estou defendendo que a língua portuguesa deve sofrer uma radical mudança, que sejam aceitos os “tbs”, pqs”, “ehs” (és), “naums” (nãos) da vida. Só estou relatando o que ocorre por ai...

Mas o que realmente me irrita sobre a língua, é sua intelectualização, ou talvez melhor ainda, elitização. Reprimem-se aqueles que tentam escrever, que têm idéias, mas não se adequam a “estrutura” criada e legislada pelos corretores de provas de vestibular, sim são esses os que educam nossa juventude a escrever, aprendemos hoje a escrever apenas porque no final do terceiro ano do ensino médio faremos um vestibular e nele haverá uma redação ou se mais, isso nem é tão importante, para responder questões que serão também encontradas nesse vestibular. O que ocorre no caso é uma clara confusão entre o conceito de objetividade e estrutura conservadora que se é imposto para as dissertações. Existe algo mais chato do que dissertar sobre um assunto pré-determinado e de uma maneira comum e a medida do possível pouco inovadora? Esqueçam a criatividade, “respeitem a norma culta”, “seria mais adequado dizer barbárie”, mas o que é mesmo barbárie? “Não sei, mas isso irá aumentar alguns pontos de sua redação” O pior, no entanto são as coletâneas, não já fosse o bastante o aluno estar encarcerado ao tema proposto, ainda vêm com essa coisa de coletânea. Funciona assim: O texto deve conter elementos plagiados ( dizem que apenas deve ser feita uma análise critica dos trechos retirados, é o significado no meio literário/acadêmico para “plagio permitido”) e alguns (vai com calma ein!), poucos, originais. Mas que visão pessimista do futuro literário de nosso país é esse? Você que está lendo agora deve estar pensando “o que esse idiota está falando? Não sabe de nada”, talvez não, mas digo o que acredito que sei.

Hmmm... Li o parágrafo anterior novamente e notei algumas idéias umas tanto precipitadas, poderia ter apertado backspace e arrumado, mas achei que discuti-las aqui seria mais interessante, além do mais não é nada tão grave. A visão critica sobre a educação e o incentivo à leitura do último parágrafo é injusta a medida que foi feita uma generalização, no geral aquele quadro é perfeito, mas sempre existem as exceções, e uma vez que existam devem ser devidamente lembradas em minha crônica ( sem citar nomes, o verdadeiro reconhecimento é o que você mesmo tem de si).

Proponho aqui, apesar da preguiça que tenho de fazê-lo, uma revolução. Uma revolução companheiros! (Desta vez ficou bem mais convincente), talvez seja melhor terceriza-la, da muito trabalho uma revolução. “Mas que revolução?”.
- La Revolucion companheiro!
-Não entendo...
-Uma revolução da língua, ora pois!
-Sei... E no que consiste?
-Vamos mudar radicalmente nossa língua, não podemos mais tolerar escrever dessa maneira!
-Que maneira? Pra mim está bom desse jeito...
-Você é ignorante, não percebe que está sendo manipulado?
-Estou?
-É, estão usando a língua para dominá-lo, criam barreiras para dificultar seu direito de expressão, estão criando aos poucos seres permeáveis a um golpe, uma ditadura! Tirarão seu direito de expressão, e você nem perceberá, pois, já estão aos poucos, lhe condicionando a isso!
-Se não vou nem perceber, qual é o problema?
-Como assim? Você não se sente mal oprimido dessa maneira?
-Não sei. Deveria?
-Sim! Deveria aderir à revolução!
-Legal, o que devo fazer primeiro?
-Nunca mais aceite escrever alguma coisa de forma correta, vamos marginalizar a língua, vamos levá-la ao alcance de todos!
-Esse papo me parece um tanto quanto comunista...
-Não trata-se de nada disso, falo de justiça! Falo do direito de expressar o que pensamos o que sentimos da maneira que quisermos.
-Ainda me parece um papo comunista, eu não sou comunista, não vou aderir a revolução, pois revoluções são comunistas.

É verdade, revoluções são comunistas, quem gosta do comunismo? O que eu disse tem algum sentido? Estou sendo contraditório? È verdade, estou, é que mudei de idéia. Mudei de novo, sou contra uma revolução, não por revoluções serem comunistas, mas é que escrever errado é feio, não gosto do que é feio.
Ações como essas... “Revoluções”, ora REVOLUÇÕES! Mas que droga! Estou cansado dessa idéia de revolução, tudo deveria continuar como está eternamente. A língua portuguesa não tem pobrema como está, escrevo da maneira que quero, e quero escrever errado, anssim, viu? Estou escrevinhando errado! Lá, lá, lá! Não gostou? Sabe de uma coisa não fiz para que gostasse. Fiz por que fiz, e por que quis assim fazer, e fasso de novo. Viu? Faço quantas vezes achar pertinente. Não, não devo desculpas a língua portuguesa, nem ela me deve. Do que estou falando? A língua portuguesa nem existe, é uma invenção do homem não é? Quem a inventou? Quem se importa? Eu me importo, escrevi uma crônica inteirinha sobre alguma coisa que nem poderá lê-la. Pobre língua portuguesa, já que não pode ler, espero que permita que alguém a leia por você, alguém que se simpatize com você. Bom, que seja, se alguém ler essa crônica já feliz me fez.
FIM. Quero dizer, até mais, bom, “ponto final” então, acho que dessa maneira adequo-me melhor as normas cultas, e se não também, peço perdões à língua portuguesa, que como já disse não existe, mas se existisse acho que mereceria que eu o fizesse.

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